Plantas Ameaçadas de Extinção
A Caatinga ocupa uma área de 734.478
quilômetros quadrados ‒ que equivale, mais ou menos, à décima parte do
território brasileiro ‒ distribuída em todos os estados da região Nordeste do
Brasil e pegando uma parte do norte de Minas Gerais, sendo o bioma brasileiro mais
quente e seco. Atualmente, é um dos biomas mais desmatados do Brasil, com menos
de um vigésimo do seu território original protegido, o que coloca muitas
espécies que vivem por lá na categoria de ameaçadas de extinção. A partir de
agora, vamos apresentar alguns desses belos vegetais em perigo.
Nome
científico: Isoetes
luetzelburgii Weber.
Família: Isoetaceae.
Onde ocorre:
áreas de Caatinga nos estados de Pernambuco e Paraíba.
O Isoetes
pertence ao grupo das licófitas que, juntamente com as samambaias, são chamadas
de “Pteridófitas”, plantas que não produzem flor, fruto nem sementes. Mas o Isoetes é bem diferente das samambaias
que estamos acostumados a cultivar em casa. Ele se parece mais com certas gramíneas,
muitas vezes sendo confundido com estas plantas.
Os Isoetes
são adaptados à vida aquática, mas podem ser anfíbios ou terrestres, vivendo
submersos ou na margem úmida de rios, lagoas e poças temporárias. A Caatinga
não é um ambientes ideal para essas plantas, mas elas apresentam estratégias
para superar a fase seca. O caule e as bases de suas folhas ficam protegidos um
pouco abaixo do solo e, desta forma, conseguem suportar períodos sem chuva.
Mesmo que a planta morra, as bases das folhas persistem e, na época da chuva,
liberam os esporos para germinar em condições favoráveis.
Isoetes
luetzelburgii, além de endêmica da
Caatinga, ocorre em poucas áreas desse bioma. A primeira coleta da planta foi
feita em 1921, pelo pesquisador Philipp Von Luetzelburg, na Lagoa dos Patos, na
Paraíba. Esta lagoa deu o nome à atual cidade de Patos, mas foi aterrada e é
bem provável que a planta não ocorra mais na localidade.
Nome
científico: Facheiroa
ulei (Gürke) Werderm.
Família:
Cactaceae.
Onde ocorre:
em algumas áreas de Caatinga do estado da Bahia.
As cactáceas se destacam na paisagem da
Caatinga. Essas plantas têm folhas modificadas em forma de espinhos e um caule
verde que realiza a fotossíntese e tem capacidade de armazenar grande
quantidade de água. Os facheiros-pretos são cactos grandes, do tamanho de
árvores, encontrados em algumas cidades do interior da Bahia, próximas ao rio
São Francisco. Suas flores e seus frutos nascem em uma parte do cacto que
parece uma almofada de pelúcia laranja, cheias de pelos e bem macia. Os frutos
do facheiro-preto são comidos pelos morcegos da Caatinga que, depois de se
alimentarem, voam para bem longe e ajudando a dispersar as sementes. A tal “almofada
laranja” ajuda a proteger o animal que sai durante a noite, impedindo que ele
bata o focinho nos espinhos do cacto e se machuquem enquanto está comendo o
fruto. Além disso, os pelos laranjas dos cactos são usados pelos beija-flores
para a construção de ninhos coloridos.
Muitas áreas da Caatinga estão sendo
desmatadas para o crescimento das cidades e o facheiro-preto está ficando cada vez
mais sem lugar para morar!
Nome
científico: Schinopsis
brasiliensis Engl.
Família: Anacardiaceae.
Onde ocorre:
em áreas de Caatinga de todos os estados do Nordeste do Brasil, além de algumas
áreas do Cerrado.
A baraúna, também chamada de braúna, é
uma árvore típica da Caatinga que chega atingir 15 metros de altura. É uma
planta usada para diferentes finalidades: a madeira é usada na construção de
casas, enquanto os frutos e as cascas dessa árvore têm função medicinal, seja
para alívio de dores de dentes ou de ouvido, além de xarope para tosse.
No período da seca, quando os animais
têm pouca comida na Caatinga, as folhas e frutos da também são usados para a alimentação
dos bodes, cabras, das ovelhas e dos carneiros.
Os frutos da baraúna têm uma “asa” que
ajuda na dispersão. Quando o vendo bate nas árvores, eles saem voando e girando
como se fosse as pás de uma hélice de helicóptero.
A baraúna também é importante para a
produção de mel, pois as abelhas da Caatinga adoram visitar as suas flore. Mas a
grande exploração da madeira da baraúna, sem o plantio de novas mudas, fez com
que ela quase desaparecessem. Por isso, hoje o corte da baraúna é proibido, mas
a espécie continua ameaçada em algumas áreas desse bioma.
Nome
científico: jacarandá
rugosa A. H. Gentry.
Família: Bignoniaceae.
Onde ocorre: em
algumas áreas da Caatinga do estado de Pernambuco.
O jacarandá da Caatinga é parente dos
ipês e também é tão colorido e bonito quanto eles. É uma árvore que chega a
alcançar quatro metros de altura e costuma brotar das fendas das rochas.
As flores dos jacarandás são lilases. As
abelhas da Caatinga adoram visita-las e, quando recolhem o néctar, levam os
grãos de pólen de uma flor para outra. Como os jacarandás têm muitas flores que
podem ser vistas de longe, outros insetos, como as arapuás e abelhas bem
grandes chamadas mamangavas, encontram essas flores antes e aproveitam o néctar
delas. Por isso, eles são chamados de “ladrões de néctar” e podem atrapalhar a
produção de sementes do jacarandá na Caatinga.
Os jacarandás estão protegidos dentro do
Parque Nacional do Catimbau, no interior de Pernambuco, mas precisam de mais
esforços para serem preservados onde vivem, pois vários insetos da Caatinga
dependem deles para se alimentar.
Nome
científico: Discocactus
petr-halfari Zachar.
Família: Cactaceae.
Onde ocorre:
em uma única área da Caatinga, no município de Juazeiro, região norte da Bahia.
As cabeças-de-frade são cactos bem
pequenos que passam desapercebidos se não olharmos com bastante atenção. Com
cerca de dez centímetros de diâmetro, seu corpo lembra um cone de sorvete que
fica enterrado no chão. A única parte que conseguimos ver acima do chão parece
um disco verde cheio de espinho quando visto de cima.
Esses cactos vivem em uma região do
sertão que é muito quente e onde quase não chove. Como todos os cactos, eles
conseguem guardar a água da chuva dentro do seu corpo e podem usá-la durante os
vários meses da estação da seca. Nesses meses de seca, as cabeças-de-frade vão
aproveitando a água armazenada e a parte de cima do cone acaba murchando e
diminuindo de tamanho, assim eles se escondem abaixo do solo e se protegem da
seca.
As flores são brancas e aparecem durante
a noite, quando são vistas pelas mariposas. Os frutos são cor-de-rosa e as
formigas adoram comê-los, ajudando, assim, a dispersar as sementes.
Como essas cabeças-de-frade são encontradas
apenas em uma cidade localizada no bioma Caatinga, se esse lugar não for
preservado, a espécie corre o risco de desaparecer para sempre do planeta!
Marcus
Vinicius Meiado,
Departamento de Biociências,
Universidade Federal de Sergipe, e
Augusto César
Pessôa Santiago,
Laboratório de Biodiversidade,
Universidade Federal de Pernambuco.
FONTE: Revista Ciência Hoje das Crianças, n°256, maio de 2014, ano 27.
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